Agência Senado/RW
Ao final desta década, o Brasil se tornará um grande exportador de petróleo. Mas internamente as fontes renováveis manterão o grande papel na produção geral de energia que já desempenham hoje. A previsão foi feita na última segunda-feira (19) pelo presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, durante audiência pública sobre o panorama energético internacional promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).
Dentro de dez anos, informou, a produção brasileira de petróleo deverá alcançar 6 milhões de barris por dia, dos quais aproximadamente a metade será exportada. A exportação se tornará possível, como explicou, pela importante participação da energia hidrelétrica e do etanol na matriz energética nacional.
– O Brasil será uma grande potência energética e ambiental do século 21. Apesar de grande exportador de petróleo, terá uma das matrizes mais renováveis do mundo, o que parece paradoxal, pois os países que vendem petróleo geralmente têm uma matriz suja de energia – observou Tolmasquim.
Como explicou o presidente da EPE, o Brasil é atualmente o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa, atrás de Estados Unidos e China. Mas o principal responsável por isso é o desmatamento, que o país se comprometeu a reduzir em 80%. Se for levada em conta apenas a produção de energia, o Brasil passa a ser o 17º maior emissor de gases. E, tomando-se apenas a energia elétrica, o país cai para 49º maior emissor de gases do planeta.
O maior problema, como ponderou Tolmasquim, é que o grande potencial de produção de energia hidrelétrica está na Amazônia, onde também se encontra a maior biodiversidade do planeta. Ele recordou, porém, que todas as hidrelétricas existentes e previstas para a região ocupariam menos de 0,5% do bioma amazônico.
Consumo
O diretor de Tecnologia da Faperj, Rex Nazaré Alves, lembrou que 1,4 bilhão de pessoas ainda não têm acesso à energia elétrica em todo o mundo. Ele informou que o aumento do consumo nos próximos anos será liderado pela China, pela Índia e pela África. Somente a China, mencionou, deverá triplicar o seu consumo de energia até 2035.
– A energia é indispensável para o bem-estar da população e é fator de independência. Ela é indispensável para se ter autonomia, assim como saúde, comida e comunicação – afirmou Alves, para quem o mundo “não pode abrir mão de nenhuma fonte de energia”.
O diretor-executivo da União da Indústria de Cana de Açúcar (Única), Eduardo Leão de Sousa, informou durante a audiência que em quase todo o mundo estão sendo adotadas políticas de misturas obrigatórias de álcool na gasolina, o que poderia representar um grande mercado potencial para os produtores brasileiros. Ele chamou atenção, porém, para a possibilidade de imposição de barreiras tarifárias e não tarifárias à exportação de etanol brasileiro.
Ouro
Durante o debate, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) alertou para o risco de se repetir, no caso da produção de petróleo da camada pré-sal, o que ocorreu no passado com a produção de ouro no Brasil, que, como observou, ajudou a industrializar a Inglaterra. Ele ressaltou a necessidade de se utilizarem os recursos obtidos com o petróleo em investimentos em ciência e tecnologia.
O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) recordou que o mundo inteiro está discutindo a possibilidade de desativação de centrais nucleares, após o acidente ocorrido em Fukushima, no Japão. Após observar que o Brasil dispõe de grande potencial de produção solar e eólica ele disse que o país poderia entrar “na contramão da história” ao projetar a construção de novas centrais nucleares.
O presidente da comissão, senador Fernando Collor (PTB-AL), lembrou que a questão da energia terá um grande papel nos debates da Conferência Rio + 20, que ocorrerá em 2012 no Rio de Janeiro.
Ele alertou para o risco de a economia verde tornar-se o “novo nome do protecionismo comercial” e observou que existem países que usam “abusivamente” a energia produzida a partir do carvão, que tem grande responsabilidade na emissão de gases do efeito estufa.