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Custos sociais de Belo Monte chegam a R$ 1 bilhão, diz estudo

Cálculo é conservador e estimativa pode ser maior, diz professor do ITA.

Consórcio prevê R$ 3,2 bilhões para compensação dos impactos da usina.

Rafael Sampaio

Do Globo Natureza, em Belém

Os custos sociais da construção da usina de Belo Monte, no Pará, são estimados em cerca de US$ 502,7 milhões, segundo estudo do professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos (SP),  Wilson Cabral de Sousa Júnior, especialista em análise de impactos ambientais.

A cifra, que equivale a R$ 1 bilhão em valores atuais, é atribuída no estudo a fatores de degradação que vão ser causados pelas obras, como perda da qualidade da água, da atividade pesqueira tradicional e ornamental, prejuízos com turismo e o custo da emissão de CO2 e de metano na atmosfera.

A pesquisa foi publicada no relatório “O Setor Elétrico Brasileiro e a Sustentabilidade no Século 21: Oportunidades e Desafios”, entregue no 6º Encontro do Fórum Amazônia Sustentável, que acontece em Belém (PA) até a próxima sexta-feira (7). O relatório havia sido divulgado inicialmente em novembro, e foi preparado por organizações como o WWF, a ONG International Rivers e o Instituto Socioambiental (ISA), além de pesquisadores de questões ambientais.

A previsão de custo social de Belo Monte, de R$ 1 bilhão, equivale ao gasto total do Ministério da Educação com assistência aos estudantes de universidades federais nos últimos cinco anos, segundo o site da pasta. Entre os fatores avaliados, o que mais pesa é o valor das emissões de carbono, afirmou o professor do ITA em entrevista ao G1. Ele classificou a estimativa como “conservadora”, apesar de correta para a pesquisa.

Procurado pelo G1, o consórcio Norte Energia, responsável pela usina, disse desconhecer os parâmetros e métodos usados no estudo. Por isso, a empresa afirmou que não vai comentar seus resultados.

A Norte Energia ressaltou ainda que os investimentos para compensação dos impactos sociais, econômicos e ambientais estimados pela empresa para Belo Monte são da ordem de R$ 3,2 bilhões, incluindo “reforma e ampliação das redes de ensino e de saúde, geração de renda e emprego, regularização fundiária e relocação de famílias”, entre outras ações.

A companhia disse ainda que todos os fatores mencionados pelo professor do ITA em seu levantamento foram considerados no dimensionamento dos impactos da usina.

Perspectiva divulgada pela Norte Energia de como ficará a Casa de Força principal da usina de Belo Monte (Foto: Divulgação/Norte Energia)

Subestimado

O cálculo de R$ 1 bilhão em custos ambientais está subestimado, aponta o pesquisador do ITA. “Ele está correto para as premissas da análise, porém o custo socioambiental pode ser muito maior a partir de valores que não calculamos”, disse. Ele cita a perda de biodiversidade como um dos fatores que não foram incluídos na conta. Outras variáveis que não foram levadas em consideração são os valores da terra inundada e o deslocamento da população local.

Para Sousa Júnior, as medidas de compensação das obras “cobrem parcialmente” os danos que vão ser causados por Belo Monte, e não vão ser suficientes. “Há danos que podem ser irreversíveis, como a perda de habitats aquáticos”, disse.

Sem certezas

Para o diretor do Programa Amazônia da International Rivers, Brent Millikan, a construção de Belo Monte deve ter um custo social grande. “Tem uma série de impactos que essa população pode sofrer. Na realidade a gente não sabe, tem incertezas. Teve muitas dúvidas sobre esta questão na época que estava se discutindo a concessão ou não da licença prévia, ou seja, se o empreendimento tinha viabilidade ambiental ou não”, afirma.

Millikan cita a população que está na região da Volta Grande do Rio Xingu, que podem “ficar numa situação muito ruim”, na sua avaliação, com um provável desvio do curso do rio. “O rio vai ficar numa seca permanente, 80% do seu fluxo deve ser desviado”, afirma.

Questionada, a Norte Energia nega que vá alterar o curso do Rio Xingu, e diz que a “empresa se comprometeu a garantir a vazão indicada nos estudos ambientais para cada período do ano”.

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