Desde o início da pandemia, concessionária já promoveu o desligamento de pelo menos dez trabalhadores no Estado.
Mesmo em plena pandemia e com o aumento crescente dos casos de coronavírus em Mato Grosso do Sul, a Energisa-MS promove mais demissões, desta vez em Corumbá. Desde o início da crise na saúde mundial, a concessionária de energia elétrica já promoveu o desligamento de pelo menos dez trabalhadores no Estado, sendo dois diagnosticados com coronavírus.
Em Corumbá, foram demitidos quatro funcionários da unidade comercial da Energisa-MS. Para o presidente do Sinergia-MS, Elvio Vargas, as demissões revelam um outro grave problema que prejudica não apenas os trabalhadores, como também a população: a terceirização do atendimento ao público. Corumbá é o terceiro município com o atendimento comercial terceirizado, os outros foram Jardim e Nova Andradina.
“Essa demissão significa terceirização do atendimento comercial, que para a população já não é legal, a população reclama muito e está insatisfeita. A partir do momento que você terceiriza, você não precariza só a relação de trabalho, quando paga menos e a condição do trabalhador que vai fazer o atendimento é pior, mas também precariza a relação do atendimento à população, as pessoas que precisam desse serviço serão prejudicadas”, explica o presidente do sindicato.
Demissões
Desde que o Grupo Energisa assumiu a concessionária, no ano de 2014, 900 trabalhadores foram demitidos, o que reflete na qualidade do serviço prestado aos consumidores. Com a pandemia, a empresa foi o primeiro grupo de energia a implantar a Medida Provisória 936 que reduz salários e jornadas e suspende contratos de trabalho.
“Ao mesmo tempo que a empresa adere à medida provisória, ela promove demissão de trabalhadores em plena pandemia. Não deveríamos ter nenhuma dispensa se o foco do programa do governo era justamente evitar demissões”, ressalta Elvio Vargas.
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Energisa é o primeiro grupo de energia a implantar MP que reduz salários e suspende contratos
A diretora do Sinergia-MS, Alicéia Araújo, também critica a estratégia da empresa de receber subsídio do governo e fazer demissões, inclusive de trabalhadores com coronavírus.
“Uma das atendentes demitidas de Corumbá estava com coronavírus, contraiu a pneumonia e retornou ao trabalho home office ainda sentindo os sintomas. A Energisa aderiu à MP 936, está utilizando um recurso do governo para manter os empregos, essa é a finalidade do governo cobrir parte da obrigação dela, que é custear o salário dos trabalhadores. Então o caixa está muito bem, mas ela continua demitindo trabalhador”, revela.
Ainda de acordo com a diretora Alicéia Araújo, além da trabalhadora de Corumbá, o sindicato registrou a demissão de outro funcionário com a doença em Campo Grande.
“No início de julho, a empresa demitiu um trabalhador com coronavírus, ele apresentou o atestado e a demissão foi mantida. Estamos tentando a reintegração, comunicamos a empresa, mandamos o atestado porque ele teve contato com outros trabalhadores do setor dele. Inclusive um desses trabalhadores é o supervisor do COD, que quase morreu, teve parada cardíaca, ficou entubado. Tem vários trabalhadores contaminados e ela demite assim mesmo”, denuncia Alicéia.
No mês de julho, a Energisa-MS anunciou que foi reconhecida pela terceira vez como uma das Melhores Empresas para Trabalhar pelo ranking do Instituto Great Place to Work (GPTW).
Os dirigentes sindicais questionam a legitimidade do prêmio considerando as demissões e a necessidade de identificação dos trabalhadores, que tem que informar o CPF e, muitas vezes, ficam com receio de responder ao questionário de forma sincera.
“O Ricardo Botelho, CEO da Energisa, dá entrevista falando que o grupo Energisa fez isso, fez aquilo, com doações de milhões de reais para o combate à pandemia. Eles gostam de falar que a empresa ganhou, pela terceira vez consecutiva, o prêmio de melhor empresa para se trabalhar. Melhor empresa para trabalhar para quem? Se em plena pandemia demite, não respeita a saúde do trabalhador que se contaminou lá dentro, terceiriza, precariza as relações de trabalho”, critica a diretora do sindicato.