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Ministério de Minas e Energia foi alvo de espionagem do Canadá

Uma apresentação da Agência Canadense de Segurança em Comunicação (CSEC, na sigla em inglês) obtida com exclusividade pelo Fantástico mostra que o Ministério de Minas e Energia foi alvo de espionagem. Na mira do órgão estava a rede de comunicações da pasta – telefonemas, e-mails e uso da internet –, que, segundo o documento, foi mapeada em detalhes.

A apresentação foi entregue por Edward Snowden – ex-analista contratado da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA, que revelou as ações de inteligência americana e hoje está exilado na Rússia –, ao jornalista americano Glenn Greenwald, coautor da reportagem junto com Sônia Bridi.

Ela mostra como funciona um programa de computador, chamado Olympia, que faz um mapeamento das comunicações telefônicas e de computador do ministério, incluindo e-mails. O objetivo é descobrir os contatos realizados para outros órgãos, dentro e fora do Brasil, além de empresas como a Petrobras e a Eletrobrás.

Há, por exemplo, registro de ligações telefônicas feitas do Ministério para outros países, como o Equador, com chamadas frequentes para a Organização Latino-Americana de Energia (Olade). No Peru, o número chamado é o da Embaixada do Brasil. Pela internet, a agência canadense acessou a comunicação entre os computadores do ministério e computadores de países do Oriente Médio, da África do Sul e até do próprio Canadá.

A ferramenta também identificou números de celulares, registro dos chips e até marcas e modelos dos aparelhos. Um deles é usado pelo departamento internacional do Ministério. Um dos usuários identificados, o embaixador Paulo Cordeiro – que era baseado no Canadá e hoje trabalha no departamento de Oriente Médio do Ministério das Relações Exteriores – não quis dar entrevista.

A apresentação canadense foi exibida em junho de 2012 numa conferência em junho de 2012 que reuniu analistas ligados a agências de espionagem de cinco países, do grupo conhecido como Five Eyes (Cinco Olhos, em português): Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.

Não há indicação de que o conteúdo das comunicações tenha sido acessado, só quem falou com quem, quando, onde e como. A mesma apresentação, no entanto, sugere ao final que seja realizada também uma espionagem conhecida como “man on the side” (homem ao lado), em que toda informação que entra e sai da rede pode ser copiada.

Informações estratégicas

As comunicações do Ministério de Minas e Energia são armazenadas em máquinas localizadas numa sala que guarda arquivos com todas as informações sobre a energia e os recursos minerais do país. A sala, chamada de cofre, tem paredes de aço, e é à prova de desastres. Pelos servidores, trafegam comunicações em redes privadas criptografadas, que são protegidas por uma série de códigos.

Um dos servidores, por exemplo, é usado pelo ministério para falar com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), a Petrobras, a Eletrobrás, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e até com a presidente Dilma Rousseff para conversas estratégias de governo.

De cada quatro grandes empresas de mineração do mundo, três têm sede no Canadá. As principais informações sobre reservas minerais brasileiras são públicas. A estrutura do Ministério, no entanto, guarda informações estratégicas, como informações sobre leilões de blocos de exploração e produção de petróleo da camada pré-sal, além de leilões de construção de usinas de energia.

“As informações podem servir a empresas que concorram nesses leilões. Eu acho isso gravíssimo. Ela sabe o que vai acontecer antecipadamente. Isso é um jogo de bilhões de dólares, coisa pouca, não”, afirma o ex-presidente da Eletrobrás Pinguelli Rosa.

Os documentos de Snowden mostram que tanto Dilma como a Petrobras podem ter sido espionados indiretamente com o acesso aos servidores do ministério. Em setembro, o Fantástico mostrou que a estatal, e também a presidente e seus assessores, estavam entre os alvos da inteligência americana. No mês passado, em discurso na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, Dilma condenou as ações de espionagem dos EUA, dizendo que elas “ferem” o direito internacional e “afrontam” os princípios que regem a relação entre os países.

Ainda neste domingo, pela manhã, ela disse, pelo Twitter, que o Congresso deve votar nas próximas semanas a proposta de Marco Civil da Internet, lei para proteger as comunicações no Brasil, que, segundo ela, “irá ampliar a proteção da privacidade dos brasileiros”.

Pela rede social, ela também disse que assim que o projeto for aprovado, enviará à ONU uma proposta brasileira de um marco civil internacional.

Ministro lamenta

Na sexta-feira (4), o ministro Edison Lobão comentou o conteúdo da reportagem. Questionado sobre como reage aos documentos, ele disse: “Eu acho que configura um fato grave que merece repúdio. Aliás a presidenta Dilma já o fez amplamente na ONU”, disse.

Lobão diz que usa videoconferências para conversar não só com a presidente, mas também com outras autoridades. “Lamento que tudo esteja sendo exposto a este tipo de espionagem”, afirmou.

O ministro diz que o Canadá “tem interesse no Brasil, sobretudo nesse setor mineral”. “Há muitas empresas canadenses que manifestam interesse no país. Se daí vai o interesse em espionagem pra servir empresarialmente a determinados grupos, eu não posso dizer”.

“Nós estamos diante, evidentemente, de um sistema de espionagem internacional”, afirmou. Questionado sobre qual prejuízo econômico o Brasil pode sofrer com a espionagem, Lobão disse que “isso não foi avaliado ainda. “Isso é uma questão que, ao longo do tempo, virá à tona”.

A Embaixada do Canadá em Brasília disse ao Fantástico que não comenta assuntos de inteligência e segurança. A CSEC disse que não comenta a atividades de inteligência no exterior.

Em nota, a NSA afirma que não vai comentar publicamente supostas atividades de inteligência e que o tipo de informação que os Estados Unidos coletam no exterior é o mesmo obtido por todos os países. A nota diz ainda que os Estados Unidos estão revisando os meios de obter inteligência, para equilibrar privacidade e segurança dos cidadãos americanos e aliados.

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