Nesta quarta-feira, presidente faz reunião com equipe para discutir formas de evitar apagão ou racionamento.
BBC
O risco de novos apagões ou de um racionamento de energia é o primeiro grande desafio do governo federal em 2013 e pode representar um teste para a popularidade da presidente Dilma Rousseff em um ano decisivo, que antecede eleições presidenciais e a realização da Copa do Mundo.
Com os reservatórios das usinas hidrelétricas abaixo ou próximo dos limites de dez anos atrás, quando ocorreu a crise do apagão, Dilma decidiu convocar às pressas nesta quarta-feira uma reunião de emergência em Brasília.
Nela, a presidente, que foi ministra das Minas e Energia durante os primeiros anos do governo Lula e se destacou pelo perfil ‘técnico’, deve discutir com sua equipe alternativas para evitar a qualquer custo um eventual restrição ao consumo de energia que, se colocada em prática, na opinião de analistas, poderia afetar sua credibilidade.
‘Uma situação como essas poderia impor um risco eleitoral à presidente, que é publicamente reconhecida como uma técnica de altíssimo nível’, disse à BBC Brasil o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio.
‘Além disso, um apagão ou racionamento de energia lançaria questões sobre o planejamento da própria presidente enquanto ministra do setor’, acrescentou.
Já o cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília (UnB), acredita que, ainda que o problema se agrave, haverá pouco ou nenhum desgaste na imagem de Dilma.
‘A presidente possui um alto índice de popularidade. É provável que ela saia incólume, tal como o seu antecessor, Lula, envolvido indiretamente nas denúncias do mensalão’, afirmou ele à BBC Brasil.
Fora das urnas, Dilma também terá pela frente o desafio de garantir a segurança energética do país, especialmente durante a Copa do Mundo, acrescentaram analistas ouvidos pela BBC.
Eles lembram que o consumo de energia tende a aumentar durante o evento esportivo.
Além disso, o Mundial será realizado em junho, período no qual costuma haver escassez de chuvas, potencializando riscos.
Crise energética
Em meio a temores de um eventual apagão ou racionamento de energia, o governo conseguiu ampliar sua capacidade de manobra, ainda que restrita, com o acionamento das usinas termelétricas, mais caras e poluentes, enquanto espera pelas chuvas.
A medida, tomada ‘tardiamente’ na avaliação de especialistas, visa a complementar a geração das hidrelétricas e permitir a recomposição dos reservatórios de água.
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), os reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste estão no nível mais baixo nos últimos dez anos.
Dados recentes do órgão revelam que as represas localizadas nas duas regiões permanecem com 28,54% de sua capacidade, ante a 76,23% no início do ano passado.
No Nordeste, o segundo maior parque gerador do país, os reservatórios apresentam uma situação um pouco melhor (30,64% da capacidade total), mas também abaixo da verificada no ano passado (59,33%).
Para Cristiano Prado, gerente de competitividade industrial e investimentos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a situação no país é extremamente delicada.
‘O Brasil está gerando energia à plena potência. Apesar de não podermos determinar se haverá apagão ou racionamento, não há plano B. Ou seja, qualquer queda na linha de transmissão ou até uma falha humana poderiam deixar o país às escuras’, disse ele.
Segundo dados da entidade, o nível das chuvas no Sudeste registra 72% da média histórica para o período, o que só ocorreu em 1933 e em 1934.
Conta de luz
Com o acionamento das usinas termelétricas, movidas a gás natural e a óleo diesel, a provável redução média de 20% na conta de luz anunciada por Dilma no ano passado tende a perder fôlego.
Isso porque seu custo mensal é de R$ 650 milhões e caso permaneçam ligadas representarão um custo de 0,8 ponto percentual de acréscimo na tarifa a ser paga pelo consumidor brasileiro por mês, de acordo com um estudo da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).
Para a Petrobras, segundo o Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (Cbie), que vem importando Gás Natural Liquefeito (GNL) para manter a operação dessas usinas, o ônus também deverá ser alto.
Se mantidas a 100% de sua capacidade durante o ano, o impacto de seu funcionamento para a estatal deverá ser de R$ 4 bilhões, considerando a diferença entre o preço de importação e o de venda no mercado interno.
Futuro
Especialistas também apontaram os riscos para o cenário energético brasileiro nos próximos anos.
Segundo eles, o aumento dos custos relativos à geração de energia aliado à pressão, por parte do governo, pela redução das tarifas exigida para a renovação dos contratos das empresas do setor, especialmente a Eletrobras, podem inviabilizar futuros investimentos na área, dada a diminuição da rentabilidade.
Como resultado, na opinião de analistas, a segurança energética do país poderia ficar comprometida.
‘Caberá ao governo responder a isso se quiser assegurar os investimentos nesse setor a médio e longo prazo’, disse à BBC Brasil Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ.