POR O GLOBO
RIO – Desde o ano passado, o Brasil enfrenta uma crise elétrica formada por uma conjunção de fatores, incluindo a falta de chuvas — que reduz a geração hidrelétrica e obriga as distribuidoras a comprar energia de usinas térmicas, a preços mais altos — atrasos em obras e medidas adotadas no passado pelo governo para forçar, na ocasião, uma redução nas tarifas.
O GLOBO passa a responder, com auxílio de especialistas, as dúvidas dos leitores sobre os motivos da crise, os direitos do consumidor quando falta luz, o aumento dos preços, os riscos para o futuro etc. A equipe do GLOBO buscará respostas para o maior número possível de questões.
Envie sua dúvida para o endereço crise.energia@oglobo.com.br.
Veja algumas respostas:
Por que o Brasil não investe em energia solar?
Tanto no Brasil quanto no exterior, a energia solar ainda enfrenta muitos desafios. O principal deles é o alto custo do painel solar, o que inviabiliza economicamente a adoção da fonte. No Brasil, para se ter uma ideia o megawatt-hora (MWh) gerado pela solar foi de R$ 215,12 com base no leilão de energia feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). As usinas eólicas oferecidas no leilão tiveram preço médio de R$ 136 por MWh, menor que o preço das termelétricas, de MWh. Porém, são as hidrelétricas que tem o menor custo, com valores variando de R$ 78 a R$ 114 por MWh.
A energia nuclear seria uma opção para o Brasil, apesar do custo e do tempo de implantação de uma nova usina? A energia nuclear é defendida por especialistas para servir como fonte alternativa às hidrelétricas, já que emite menos gás carbônico em relação às outras fontes. Hoje, o país tem em operação as usinas Angra 1 e Angra 2 e está construindo Angra 3, que vem sofrendo com o atraso em obras. Após o acidente nuclear em Fukushima, no Japão, os países europeus, assim como o Brasil, decidiram abortar qualquer plano de investimento na fonte nuclear devido às questões de segurança. Assim, o Brasil que tinha planos de construir usinas no Nordeste retirou as unidades de seu programa.
A energia pode ser armazenada como a água? O que acontece com a energia produzida que não é utilizada?
A eletricidade não pode ser armazenada. Tudo que é produzido é consumido. Há um monitoramento da demanda e a carga é elevada de acordo com o que for sendo usado. Há um indicador conhecido como “energia armazenada” que corresponde ao nível da água dos reservatórios.
Quanto representa na matriz energética do país a energia eólica e solar?
As hidrelétricas correspondem a 73% da matriz, as nucleares, 2,87%, as térmicas, 20,94% e as eólicas, 2,93%. Não há participação de geração solar na matriz brasileira.
A alta de preços de energia causada pela crise no setor pode ser considerada uma inflação de custos ou uma inflação de demanda? Especialistas indicam uma série de fatores que explicam os aumentos nas tarifas de energia, que chegaram a quase 20% em 2014 e devem ultrapassar esta marca em 2015. Para o consultor Rafael Kelman, da PSR, a questão não é excesso de demanda, mas sim a falta de oferta de energia, o que é causado por falhas na infraestrutura — muito dependente das usinas hidrelétricas. Isso leva a uma inflação de custos, já que as distribuidoras precisam recorrer às termelétricas, mais caras. O analista calcula que o custo anual com as térmicas chegue a R$ 30 bilhões, valor que é repassado ao consumidor. André Perfeito, economista da Gradual Investimentos, diz que é “nitidamente” uma inflação de custos, pois a demanda está estável. Já o gerente de regulação da Safira Energia, Fábio Cuberos, destaca o peso do aumento inesperado da demanda, ainda em 2012, quando o governo reduziu em cerca de 20% as tarifas de energia, além de ter incentivado por meio de isenções tributárias.
Porque a gasolina está mais barata no mundo inteiro e aumentou no Brasil?
A gasolina e o diesel são vendidos pela Petrobras. A companhia compra esses combustíveis no exterior e revende no Brasil. Nos últimos anos, o preço do petróleo e, consequentemente, dos derivados, estavam altos no exterior, e a Petrobras, ao revender os combustíveis no Brasil, não repassava ao consumidor brasileiro esse preço alto para evitar uma pressão no índice de inflação. Com isso, a companhia acabou acumulando prejuízo, já que comprava mais caro no exterior e revendia mais barato no Brasil. Porém, o cenário mudou desde meados do ano passado, quando o preço do petróleo caiu drasticamente. E, como forma de recuperar parte desse prejuízo em suas contas, a Petrobras decidiu não reduzir o preço dos combustíveis. A Petrobras diz que não quer repassar para o consumidor brasileiro a “volatilidade” nos preços internacionais. No último dia 19 de janeiro, o governo aumentou o valor dos impostos que incidem nos combustíveis para reforçar a arrecadação governamental. Foram restabelecidos PIS/Cofins e Cide. A medida prevê a elevação do PIS/Cofins de R$ 0,22/litro do imposto na gasolina e de R$ 0,15/litro do tributo sobre o diesel. Esses valores vão vigorar até o dia 30 de abril. A partir daí, eles serão reduzidos para R$ 0,12/litro para a gasolina e R$ 0,10/litro para o diesel.