No último dia 3 de dezembro, os eletricitários perderam mais um colega. Ronaldo Fiori Figueiredo, de 32 anos, morreu após receber uma descarga elétrica durante a execução do trabalho na região de Sete Quedas. O eletricista Lindomar (o Balsinha), que trabalhava com Ronaldo, sofreu diversas queimaduras e está internado em estado grave na Santa Casa.
As circunstâncias do acidente estão sendo apuradas pelo Sinergia-MS. O dirigente sindical Natanael Cavalheiro e um perito, contratado pelo sindicato, foram até o local da ocorrência.
Para o sindicato, demissões, treinamentos insuficientes e pressão por resultados potencializam os riscos e provocam o aumento de acidentes com mortes. “Hoje nós temos uma média de uma morte por ano desde que a Energisa assumiu a concessionária. Não tínhamos tantos casos antes, isso é desrespeitar a vida do trabalhador que ajuda a empresa a lucrar todos os dias”, critica o presidente do Sinergia-MS, Elvio Vargas.
Já são três mortes de eletricistas da Energisa-MS, nos últimos três anos. Em dezembro de 2015, o eletricista Elton Junior das Neves, de 40 anos, morreu enquanto trabalhava, em Corumbá. Em outubro de 2017, Jean Roberto Pereira Weiss Ramos, de 29 anos, faleceu devido a um acidente enquanto fazia a manutenção de uma rede de eletrificação rural próximo a Amambai. E, agora, a vítima foi Ronaldo Fiori, de 32 anos, em Sete Quedas.
Treinamentos insuficientes
O Sinergia-MS já registrou diversas denúncias no Ministério do Trabalho questionando a qualidade dos treinamentos oferecidos pela Energisa-MS. Problemas como aulas à distância, falta de qualificação dos instrutores e tempo insuficiente de capacitação, principalmente na questão prática, prejudicam o preparo desses profissionais que arriscam a própria vida pela empresa, segundo o sindicato. Apesar da assinatura de um termo de compromisso, a concessionária de energia ainda não realizou as modificações necessárias para garantir a segurança dos eletricitários.
“Ontem, nós protocolamos um novo documento na Energisa-MS cobrando uma atitude da empresa para melhorar as formas de treinamento. É uma medida urgente, não queremos perder mais colegas. São vidas perdidas e famílias que estão sendo desestruturadas simplesmente porque a concessionária coloca o lucro na frente da segurança”, denuncia o presidente do sindicato.
Os dois eletricistas envolvidos no acidente desta semana tinham cerca de 3 anos de atuação na concessionária de energia, sendo 2 no Linha Viva. Para o diretor do sindicato, Francisco Silva, que é técnico em segurança do trabalho, o treinamento oferecido pela empresa para atuação no Linha Viva é insuficiente.
“Antigamente, era preciso pelo menos quatro, cinco anos para ser um Linha Viva. Hoje não, o eletricista entra e amanhã, se ele quiser, faz um curso. E a Energisa forma o Linha Viva em 40, 50 dias e já coloca o eletricista na rede. E essa formação não é assim, é demorada, o trabalhador precisa ter mais experiência, porque afinal de contas ele está exercendo uma função altamente perigosa, trabalhando com a rede ligada o tempo todo”, explica.
Outra questão apontada pelo diretor é que o acidente poderia ter sido evitado se houvesse um supervisor na equipe. “Pelo que entendemos do acidente, enquanto um estava fazendo uma atividade lá em cima [no cesto elevado], o debaixo também estava trabalhando. Por isso, o correto é ter um terceiro eletricista, que seria um supervisor, um profissional com mais experiência, para orientar. Isso existia há um tempo atrás, mas a empresa foi tirando, e hoje a ausência desse supervisor contribui para o acidente”, avalia o diretor.
Demissões e pressão por resultados
Segundo o Sinergia-MS, a presença de eletricistas com pouca experiência atuando no Linha Viva, e sem supervisão, é resultado de outro problema grave na Energisa-MS: as demissões. Desde 2014, já são quase 700 trabalhadores demitidos. Considerando que a concessionária conta com 1.319 funcionários, a rotatividade foi de mais de 50% nos últimos anos.
“A empresa demitiu praticamente todos os trabalhadores mais experientes e sempre denunciamos isso. Na visão do sindicato, Linha Viva, COI e Segurança são áreas estratégicas em que é de suma importância a permanência de trabalhadores experientes, como referência, junto aos mais novos. Um trabalhador do setor elétrico leva no mínimo uns 10 anos para atingir a sua maturidade”, explica o presidente do sindicato, Elvio Vargas.
O diretor Francisco Silva acrescenta ainda que essa alta rotatividade associada à pressão excessiva por resultados prejudicam a segurança do trabalhador na execução de suas atividades. “A empresa pode dizer que o eletricista errou, e a gente não descarta a possibilidade do trabalhador ter errado. Mas ele pode ter errado por que? Pela pressão por resultados, por produtividade, ou porque o procedimento também pode estar errado, enfim, são vários fatores relacionados à forma como a empresa trata o trabalhador”, esclarece Francisco.
Por: Adriana Queiroz/Assessoria de Comunicação do Sinergia-MS