Para associação dos consumidores, governo precisa assumir que o setor passa por um momento delicado e, por consequência, pedir a colaboração dos consumidores quanto ao uso inteligente da energia
Por Wagner Freire
A Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace) tem plena convicção que o País não passará por um racionamento de energia em 2013. No entanto, a associação pede que o governo federal, representado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), assuma que o setor elétrico passa por um momento delicado, que merece atenção por parte de toda a população.
Para o diretor presidente da Anace, Carlos Faria, o melhor resultado da reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) seria o governo admitir que estamos com a luz amarela acessa sobre o setor. Faria afirmou que essa deveria ser a primeira decisão do governo. Em seguida pedir a colaboração dos consumidores (tanto residencial quanto comercial e industrial) para que usem a energia de forma inteligente nesse momento.
A reunião ordinária do CMSE, que reúne toda a cúpula do setor elétrico, acontece nesta quarta-feira (9/1), às 14h30, em Brasília. No encontro será feito uma avaliação do atual cenário do sistema.
O custo da geração térmica
Se por um lado Faria confia que não haverá racionamento, por outro estima que a geração termelétrica – que hoje está atendendo até 25% do consumo do País, segundo o Operador Nacional (ONS) – permanecerá por todo o ano, o que certamente resultará em uma tarifa de energia mais cara. Isso porque em relação à energia hidrelétrica às térmicas têm um custo maior para o sistema. Parte desse ônus será repassada aos consumidores em 2013, conforme forem sendo realizadas as revisões tarifárias das concessionárias de distribuição.
“A situação é preocupante. Os reservatórios não estão reagindo. Estão cada vez mais baixos, similares aos de 2001. Desde outubro de 2012 temos despachado térmicas. Do ponto de vista do consumidor, isso é muito ruim. As térmicas vão significar um reajuste importante na conta. O desconto na tarifa que foi prometido pelo governo de 20% a partir de fevereiro vai virar no máximo 10%”, analisou Faria, em entrevista ao Jornal da Energia.
De acordo com Faria, houve uma falha no planejamento elétrico. “Várias termelétricas que deveriam entrar em operação neste ano não sairão do papel. Na nossa visão, outra falha de planejamento está em construir hidrelétricas sem reservatórios. Estamos perdendo capacidade de armazenar energia. Há dez anos, poderíamos ficar até 12 meses sem chuva. Hoje, só quatro meses. Se os reservatórios têm algum passivo ambiental, eles podem ser controlados, e trazer muito mais benefícios para controlar uma situação como a que estamos vivendo”, opinou o diretor da associação que representa os consumidores.
Faria lembra que no início do ano passado, a Anace, junto com outras associações, enviou uma carta para o governo federal. Um dos pontos pleiteados era justamente a volta da construção de hidrelétricas com reservatório. As últimas usinas leiloadas, como Belo Monte (11.233 – PA), são construías no modelo chamado de “fio d’ água”, onde praticamente não há reservatório para armazenamento de energia. Elas operam com a força do fluxo do rio, diminuindo o impacto ambiental ao redor das instalações.
“Outro ponto falho do planejamento é a questão das linhas de transmissão que não estão prontas para os parques eólicos escoar a energia. Além de não gerar energia para o sistema, o consumidor ainda está pagando essa conta”, criticou o diretor presidente da Anace.
Para ele, no entanto, mesmo que as eólicas estivessem em operação normal, o problema dos reservatórios só seriam minimizados. “A geração eólica contribui, mas não é a solução. O que precisamos é construir um sistema hidrelétrico que possa armazenar água e nos dar esse conforto.”
Segundo Faria, embora o risco de racionamento esteja afastado em 2013, ele pode ocorrer em 2014, caso os reservatórios não se recuperem no nível esperado. “No curto prazo, a solução para evitar um eventual desabastecimento seria a construção de termelétricas emergenciais. É possível construir térmicas em um prazo de seis meses. Já fizemos isso no passado. Mas é claro que essas usinas não têm a mesma qualidade das convencionais”, ponderou.
Insegurança elétrica pode afugentar investidor
O presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Carlos Faria, chamou a atenção para outro problema causado pela possibilidade de racionamento. Ele conta que a indústria tem visto com preocupação essa situação. “Como eu vou investir se tenho que conviver com a espada sobre a cabeça? Der corre o risco de ficar sem energia. Isso atrapalha os planos de novos investimentos no Brasil”.
Ele ainda acrescentou que o custo da energia, porém, vem em primeiro lugar em relação aos gargalos brasileiro. “Tudo bem que demos um primeiro passo com a MP579. Mas o problema crucial do custo da energia são os tributos.”