Credores do Rede temem prejuízo e se organizam – VALOR ECONÔMICO
Investidores estrangeiros que detêm títulos perpétuos de dívida do grupo Rede temem que os deságios oferecidos para esses papéis pelos futuros compradores sejam muito elevados e se preparam para uma queda de braço. O plano de recuperação do grupo será apresentado na sexta-feira ao juiz da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo e prevê a venda do controle da companhia para a Equatorial e a CPFL.
O Rede controla oito distribuidoras de energia espalhadas pelo país e que hoje estão sob intervenção da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). No fim do ano passado, o grupo entrou com pedido de recuperação judicial de suas holdings, etapa que faz parte do seu processo de venda.
Um grupo organizado de investidores estrangeiros, que detém cerca de metade dos US$ 496 milhões de títulos perpétuos do Rede em circulação no exterior, espera negociar as condições do plano de recuperação e impedir que os prejuízos sejam muito altos. Ainda não se sabe qual o deságio que será oferecido para esses títulos. A expectativa dos controladores do Rede é que a primeira reunião com os credores ocorra em junho. Após a aprovação, o plano será submetido à Aneel.
Ontem, o escritório de advogados americano Bingham McCutchen, que organiza a posição conjunta dos credores, coordenou uma teleconferência às 11h30 de Nova York para alinhar a posição dos investidores. Participaram da reunião sobretudo grandes fundos e investidores institucionais dos Estados Unidos. Segundo uma fonte que prefere não se identificar, existe uma preocupação de que a venda do Rede seja feita de forma “anticompetitiva”, desfavorável aos credores externos.
Para esses investidores, seria melhor que a venda da companhia fosse feita por meio de um leilão e não da forma como foi conduzida até o momento, com exclusividade para o consórcio Equatorial/ CPFL. O leilão permitiria que outros interessados nos ativos do Rede concorressem entre si e apresentassem condições mais favoráveis para o pagamento das dívidas.
Os investidores querem evitar que se repita o caso da Celpa, distribuidora de energia do Pará que também pertencia ao grupo paulista. A empresa foi vendida no ano passado para a Equatorial em condições consideradas “pouco favoráveis” por esses credores. A Celpa tinha no exterior dívidas de US$ 250 milhões. Após a venda da Celpa, Jorge Queiroz, controlador do Rede, concedeu ao consórcio CPFL/Equatorial exclusividade nas negociações para aquisição das oito distribuidoras remanescentes e que vigorou até dezembro.
Três pontos agora vão prevalecer nas negociações, afirmou a fonte ouvida pelo Valor: um tratamento justo entre credores domésticos e externos, uma comunicação transparente e detalhada para todos os credores, e um processo de leilão competitivo e aberto para diferentes concorrentes. “Essa é uma história que já vimos acontecer. No caso da Celpa, vimos que os credores domésticos da empresa tiveram privilégio de negociação dos termos de dívida. Isso não é justo. Tememos que o mesmo aconteça com a negociação do grupo Rede”, disse a fonte.
Por Filipe Pacheco, Claudia Facchini e Rodrigo Polito | De São Paulo e do Rio