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28 de Abril de 2021 às 08:00

Eletricitários estão entre as principais vítimas de acidente de trabalho com morte em MS

Arquivo Pessoal Reinaldo

21 de outubro de 2014 era para ser mais um dia de trabalho para o eletricista Reinaldo Garcia na Energisa/MS. Com uma rotina marcada por longas distâncias, típica de quem atende propriedades rurais nas cidades do interior, o trabalhador enfrentou um desafio comum no setor elétrico: houve um temporal e as chamadas triplicaram.

Às 19h, a equipe de plantão, formada por dois eletricistas, foi atender a uma solicitação na zona rural de Inocência. Ao iniciar a manutenção, Reinaldo sofreu um choque elétrico de 34.500 volts.

“Fiquei inconsciente nesse momento, só comecei a voltar quando já estava chegando na cidade, dentro da ambulância. Inclusive demorou um tempo para lembrar o que aconteceu nesse dia”, conta.

Ele precisou ser transferido para a Santa Casa de Campo Grande e ficou 22 dias internado. Teve o dedo da mão direita amputado, passou por sete cirurgias e perdeu o movimento do braço direito. Desde então, faz fisioterapia e não conseguiu voltar à profissão.

A história do Reinaldo nos remete ao dia 28 de abril, que é o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho. Neste dia, em 1969, ocorreu um acidente em uma mina, nos EUA, que resultou na morte de 78 trabalhadores.

A partir desta data, surgiu o movimento “Abril Verde” que busca promover a conscientização sobre a segurança e a saúde no trabalho. Uma reflexão fundamental para os trabalhadores do setor elétrico que estão expostos a diversos riscos diariamente.

*As fotos do arquivo pessoal de Reinaldo foram tiradas em janeiro de 2012, quando a vestimenta antichama ainda não era obrigatória no setor elétrico.

Mais de 160 eletricitários foram vítimas de acidentes de trabalho em 2020

O Sinergia-MS apurou que foram registrados pelo menos 162 acidentes de trabalho com afastamentos de trabalhadores no setor elétrico em 2020, sendo 38 registros na Energisa/MS e 124 nas empresas contratadas.

Nos primeiros três meses de 2021, 17 acidentes de trabalho foram registrados, sendo 2 na concessionária de energia e 15 nas terceirizadas.

Mortes por acidentes de trabalho em MS

Em 2020, Mato Grosso do Sul registrou 46 mortes por acidentes de trabalho, aumento de 39% em relação a 2019, quando foram notificados 33 óbitos. Os dados são do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região, com base no CONCAT.

Em relação ao setor elétrico, as profissões de eletrotécnico e instalador de linhas de baixa e alta tensão (rede aérea e subterrânea) estão entre as principais funções com registro de acidente de trabalho com morte em 2020 no Estado.

 

Tabela TRT-MS

Uma das perdas mais recentes da categoria no Estado foi a morte do eletricista Wesley Tavares, no dia 19 de fevereiro de 2021. O trabalhador atuava na Energy, terceirizada da Energisa, e morreu após um acidente com o caminhão da empresa durante o plantão.

Para o sindicato, ainda que o acidente não tenha ocorrido durante a manutenção da rede elétrica, as condições de trabalho enfrentadas pelo eletricista podem ter sido um fator de risco que prejudicou a saúde e a segurança do trabalhador.

Fatores de risco

O diretor do Sinergia-MS, Francisco Ferreira, que é técnico de segurança do trabalho, afirma que a falha humana tem sido apontada como principal causa dos acidentes, contudo, há todo um contexto que contribui para a situação do chamado “ato inseguro”.

“O trabalhador é acusado de não cumprir uma regra ou pular uma etapa. Mas por que isso acontece? Porque houve uma pressão por produtividade, por agilidade, pela urgência da manutenção. E todo procedimento de segurança é demorado, são várias etapas porque a rede elétrica é muito perigosa”, explica.

Outra questão é o direito de recusa, previsto em normas regulamentadoras como a NR 10, mas que muitas vezes não é utilizado pelo eletricista por medo de retaliação ou questionamento por parte da empresa.

“Há casos em que o trabalhador identifica um possível risco, mas é questionado e obrigado a rever essa avaliação. Com o tempo, isso pode acarretar em uma omissão que vai colocar ele em risco. O acidente de trabalho não se caracteriza no momento exato da ocorrência, ele está relacionado a uma série de situações anteriores, pequenas falhas ou pequenos acidentes que foram ignorados pela empresa”, avalia Francisco.

 

O especialista em Elétrica, Eletromecânica e de Segurança no Trabalho, Gilson Santos, explica que o ambiente de trabalho deve favorecer a saúde e a segurança dos eletricistas. “Muitas vezes, um ambiente de competitividade não favorece a segurança. Os funcionários precisam estar unidos, falando a “mesma língua”, trabalhando em equipe, cuidando um do outro”, considera o especialista.

A ausência de trabalhadores experientes também pode ser um agravante. “O treinamento é importante, mas há condições que o profissional só encontra no dia a dia de trabalho. Quanto mais experiente, mais segurança. Se uma equipe tiver apenas eletricistas que acabaram de se formar, isso aumenta as chances de acidente”, alerta Gilson.

Conscientização

O comportamento e a conscientização do eletricista também são fundamentais para redução dos riscos de acidentes. “O funcionário tem que ter consciência que precisa colocar o capacete para salvar sua vida, e não para evitar uma punição. O uso de EPIs e o respeito às normas são para garantir a sua segurança, para te manter vivo, simplesmente isso”, ressalta o especialista Gilson Santos.

Realizar a análise preliminar de risco com consciência e atenção também é outra medida importante. “Sempre falamos nos treinamentos: analise o trabalho para não ter que analisar o acidente”.

 

Quem sobreviveu a um choque de 34.500 volts, sabe que nenhuma meta de trabalho é mais importante que a vida. O eletricista entrou na empresa quando era Enersul e o acidente ocorreu em 2014, sete meses após a gestão da Energisa.

“Eu sempre fui trabalhador e era bom no que fazia, mas se eu tivesse morrido? Você pode ser o melhor eletricista da empresa, mas se sofrer um acidente, não tem mais nada. A vida vale mais que qualquer outro mérito. Com fé em Deus, consegui me adaptar. Hoje é um milagre eu poder andar e estar com minha família”, conta Reinaldo, que atualmente é vereador na Câmara Municipal de Nioaque.

Por: Adriana Queiroz/Assessoria de Comunicação Sinergia-MS



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